D esde pequeno eu os via juntos. Passavam em frente a minha casa, sempre de mãos dadas. Para o menino de 10 anos eram já velhos, embora hoje...

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Mãos Entrelaçadas

Desde pequeno eu os via juntos. Passavam em frente a minha casa, sempre de mãos dadas. Para o menino de 10 anos eram já velhos, embora hoje eu saiba que deveriam ter, na época, cerca de 40 anos ele, e ela em torno de 35. Eu os via sempre. Não tinham filhos; tiveram uma menininha, mas a perderam num acidente de carro. Nunca mais se aventuraram... Moravam numa casinha azul, rodeada de árvores e flores, e cada menino do bairro cobiçava as mangas que carregavam de um cheiro doce o ar de dezembro. Mas era uma cobiça certeira, já que todos nós desfrutávamos daquela mangueira!

Eu fui crescendo, fui deixando de ser menino e eles sempre de mãos dadas pelas ruas do bairro. Quando eu entrei para a faculdade e fiquei fora 4 anos eles continuaram a andar juntos, apoiados nas mãos dadas... Voltei. Soube então que ele adoecera. Mas ainda os via, nas ensolaradas manhãs de domingo, enquanto eu lavava o 1º carrinho da minha juventude, passos mais lentos, ele apoiado nela, as mãos entrelaçadas... Quando me casei eles não puderam assistir ao meu casamento com a menina mais bonita do bairro pois ele já quase não se levantava da cama...

E o tempo passou... No ano em que meu 1º filho nasceu, ele a deixou finalmente sozinha; as mãos se deram pela última vez... Era uma ensolarada manhã de abril...

Hoje passei pela casinha azul rodeada de árvores. A mangueira está florida, logo dezembro chegará e as mangas estarão perfumando o ar do bairro onde eu nasci e onde eu fui criado. Ela estava lá, sentada na cadeira antiga, olhando a rua, contemplando talvez a vida, talvez o tempo...

Sorriu ao me ver passar de mãos dadas com a menina mais bonita do bairro. Por um momento ela me olhou bem dentro dos olhos. Firmemente. E sorriu. Sabendo de todas as vezes que eu a vi com o seu menino andando de mãos dadas pelas ruas da minha infância...


Por: Elaine Gaspareto


 



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